faz um tempo que ela comenta
sobre a falta
o luto mata todas as plantas
até as mais jovens
até as que já nascem pra viver o luto da luz,
as de sombra,
as que nem precisam de água.
nenhuma escapa
tem falado pouco
tem fingido mais
afinal, ela costuma dizer que precisa dar conta dos dias
parece dar mais importância às obrigações
do que às suas lágrimas
essas deram uma secada, mas
vez ou outra inudam por
horas e horas;
mas não passa muito disso.
o choro, o desespero,
a calmaria póstuma.
e o recomeço
-das obrigações-
depois ficam alguns longos dias esquecidas
até que a garganta começa a ficar dolorida,
os dedos machucados, descarnados
enjoados.
mas enquanto apara as cutículas,
toma longos banhos enquanto
tapa a água.
uma mão segura a vazão
a outra organiza os dias…
até que a barragem rompe
e ela fica tão sem jeito
e sem forças
esse é o jeitinho dela sentir:
como se fosse uma descrença
uma desistência
até recuperar o fôlego
e voltar pra fuga
os dias que ela recupera o fôlego
são dias de muita chuva;
mas vai respirando fundo, enquanto desiste.
e volta a colecionar momentos de exaustão na sua são silvestre.
dia desses ouvi ela falando
que ainda não conseguiu entender
qual dos estados machuca mais:
o que ela desiste de tudo
ou o que ela desiste dela.