sábado, 21 de novembro de 2020

os olhos abrem
bexiga cheia, dói até o estômago (mais alguém sente isso quando tá com xixi acumulado?)
o lençol saiu todo, não tem onde prender a roupa de cama nessa cama...
o suor escorre na nuca,
embaixo dos peitos.
buzinas, sol e vapor quente na cara, logo cedo.
já são pelo menos 8h?
quase, deixa eu esperar mais um pouquinho.
será que o xixi aguenta?
ah não, vou levantar mesmo.
tirar lençol, cobertor, travesseiro de cima da cama (não é bom que o cachorro se esfregue nisso tudo...durmo nua, é frescura ter esse nojo?)
levanto.
dói tudo
lombar, quadril esquerdo
dói até mexer as pernas...
quando minha coluna vai melhorar?
eu não consigo dormir numa cama desconfortável por...14 dias?
e se eu precisasse dormir pra sempre?
que frescura, chega dá vergonha de reclamar.
meu corpo não aguenta nada.
enfim, xixi.
não arrumei nada ontem...tava impossível de andar com essa dor.
olhando assim de longe, consigo nem imaginar meu corpo se curvando pra apanhar esse cocô no chão.
eita bagunça.
queria poder arrumar tudo...
vou logo tomar o remédio mais forte, talvez até o fim da manhã eu consiga.
deixa eu podar as plantas aqui, colocar água... vou molhar tudo mesmo porque não tá rolando se abaixar pra chegar mais perto. 
tudo bem, o sol seca. 
ô se seca, um calor desse.

melhor lavar os pratos pelo menos?
eu consigo ficar em pé e posso colocar as roupas na máquina (será?).
puta que pariu, por que tá tudo armazenado perto do chão? mas é normal né?
eu preciso me adaptar ao padrão sempre?
eu preciso me adaptar a dormir num sofá ruim, numa cama ruim, a me abaixar pra pegar as roupas sujas, as comidas na geladeira, as panelas, o cocô, as toalhas?
vou tentar.

eu tinha que derrubar essa tampa? como vou apanhar? por sinal, onde ela caiu? não consigo achar.
ah, deixa aí mesmo.
esse podcast é ótimo né? 
é bom poder rir depois de tantos dias e estando com tanta dor.
ai terminei os pratos pelo menos e fiz o café (que tá na garrafa sem tampa).
vou pro sofá.
por que eu fiz o café mesmo?
tô enjoada, estômago doendo...devem ser os remédios.
pernas pra cima que parece que ajuda a aliviar a dor...acho que diminui a compressão do ciático pela lombar.
deixa eu dar pause aqui...no podcast.

fico olhando pro teto,
olho pros quadros da parede:
nada meu,
absolutamente nada.
não vi esse filme,
não conheço esse cantor,
nem essa banda aqui.
ah esse filme eu gosto, fui eu que dei esse pôster de presente?
foi.
ah, então tem algo meu.
assim, que pelo menos eu dei.
será que eu aguento mais um dia nesse sofá? nessa cama?
não é como se tivesse opção.
será que tá mesmo tudo bem estar tão cansada?
queria silêncio
e escuro.
eu gosto muito de dormir no escuro.
será que eu preciso me adaptar a isso também? a dormir no claro.
como tá a lista de adaptações?
será que eu me adapto mesmo?
ou vou colecionando pequenos desconfortos
que podem virar algo grande
e me deixar tipo assim: com dor, indisposta e sem forças...meio que o dia todo, todo dia?



terça-feira, 21 de julho de 2020

c(l)hama

a vida adulta que chama 
libertadora,
autônoma
re so lu ti va

falei assim, devagarzinho, porque as resoluções ocupam 90% do dia do adulto
elas tomam o dia, assim como musicam perfeitamente o fim de uma estrofe,
de um trecho

isso quando nós, adultos, assumimos esse estado com vontade
com vontade, eu repito

a opção oposta seria assumir a vida adulta como uma criança
acordar, não porque precisa, 
mas porque mandam
resolver, não porque as coisas precisam ser encaradas, mas porque alguém inicia o caminho por nós e delineia a metodologia perfeita para finalizarmos...
comer, não porque reconhecemos a importância daquele alimento para o nosso corpo (ou para o espirito, nos dias mais difíceis e nos mais felizes também),
mas porque colocam no nosso prato.

o que a gente descobre
é que a linha que separa uma vida adulta da outra, é a escolha

é quando a gente não se sente mais abandonado quando não ajudam a gente a resolver;
é quando a gente não se dói quando alguém aponta nosso erro sem o cuidado de um professor de alfabetização;
é quando a gente liberta o outro da culpa,
porque chegou a hora nos assumir responsáveis pelos nossos desfechos

sozinhos

~embora bons companheiros estejam conosco nesses caminhos~



terça-feira, 7 de julho de 2020

par(ar)

ela sempre refletiu sobre a importância dos ouvidos 
nunca soube se era porque ouvia demais
ou porque falava para dentro 

sempre os achou essenciais, assim, como órgão do sentido

o sentido de ouvir, para ela, sempre foi magnífico, 
bonito, 
admirável, 
empático 
sempre quis um par deles para dividir os dias 

sempre quis o par todo
de ouvidos
de olhos 
de mãos
de pontinha do nariz gelada 

tudo que aproximasse 
que lembrasse, mesmo que vagamente, 
os 5 sentidos todos 

 lembra? 
"ninguém nunca que pode ocupar todos os sentidos" 
ela repetiu por anos essa espécie de oração para justificar a falta de pares 
ou melhor 
a falta de emparelhamento
a falta de contemplação

negou por anos 
essa importância 
esse desejo

aceitou, por tempos, o silêncio
quando quis tanto a palavra 
aceitou também o grito, 
quando queria o silêncio 
aceitou as ausências de toque, 
quando o abraço salvaria tudo 
aceitou tão pouco, quando queria muito 
e tentou demais, quando fugia da solidão 

na verdade, o que ela queria era dizer que a gente sabe o que a gente admira
o que deixa a gente em paz 
de olhinho brilhando 
o que a gente quer receber e também (quase que primordialmente) dar 
e isso tudo 
esse conjunto de palavras ditas de forma confusa 
era só para dizer que alguém pode sim dividir, com ela, todos os sentidos

ocupar jamais

e recebe com contemplação o que sempre amou e sabia

o amor, esse amor aqui, que ela sente,
não dá pra dizer o tamanho 
se é maior ou menor
se é mais louco ou mais sóbrio 

ele é o real 
o que acompanha 
o que contempla absolutamente todo o amor que ela sempre teve e esperava companhia  

ela nunca havia entendido e agora parece que entendeu foi tudo.