domingo, 29 de janeiro de 2023

apenas uma alternativa correta

 



faz um tempo que ela comenta 

sobre a falta


o luto mata todas as plantas

até as mais jovens

até as que já nascem pra viver o luto da luz,

as de sombra,

as que nem precisam de água.

nenhuma escapa


tem falado pouco

tem fingido mais

afinal, ela costuma dizer que precisa dar conta dos dias

parece dar mais importância às obrigações 

do que às suas lágrimas 


essas deram uma secada, mas

vez ou outra inudam por

horas e horas;

mas não passa muito disso.

o choro, o desespero,

a calmaria póstuma.


e o recomeço 

-das obrigações-


depois ficam alguns longos dias esquecidas

até que a garganta começa a ficar dolorida,

os dedos machucados, descarnados

enjoados.


mas enquanto apara as cutículas,

toma longos banhos enquanto 

tapa a água.


uma mão segura a vazão 

a outra organiza os dias…


até que a barragem rompe

e ela fica tão sem jeito

e sem forças


esse é o jeitinho dela sentir:

como se fosse uma descrença 

uma desistência 

até recuperar o fôlego

e voltar pra fuga


os dias que ela recupera o fôlego 

são dias de muita chuva;

mas vai respirando fundo, enquanto desiste.


e volta a colecionar momentos de exaustão na sua são silvestre.


dia desses ouvi ela falando

que ainda não conseguiu entender

qual dos estados machuca mais:

o que ela desiste de tudo

ou o que ela desiste dela.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

viver é correr?

 li algo sobre a corrida que é a vida
ou sobre a vida que é corrida

a conclusão, na verdade, foi exatamente pela via oposta:
viver não é correr.
a frase era bem essa mesmo
e aí pensei e depois de 2 anos sem escrever 
conclui que a minha.

digo, minha vida tem sido mesmo correr.
é tanto e há tanto tempo
que nem sei mais como eu funcionaria sem minha são silvestre diária.
aliás 
como funcionaria
sem o eu
porque minha corrida engloba mentalmente tanta gente
que tirar o “eu” da frase faz mais sentido.

o cine-pensamento está de volta?